REAÇÃO

 

Lutando contra a falta de oportunidades na largada

 

Crescer no Rio de Janeiro tem, dentre tantas, uma vantagem especial. A desigualdade de oportunidade por todo lado é tão evidente, que por mais distraído que se seja, só sendo cego pra não percebê-la. Fica mais fácil construir vontades. De mudar, de reagir. Não há blindagem que anestesie esse desconforto. A minha explodiu em agosto de 2000 quando, aos vinte e cinco anos, entrei pela primeira vez numa favela. Depois de anos de ações pontuais de filantropia com alguns amigos chegava a hora de começar algo consistente. Como o Judo era o que fazia melhor achei natural usá-lo como carro-chefe da minha intenção. Era o nascimento do Instituto Reação e a entrada num caminho, pra mim e todos os outros que me acompanharam, sem volta. Jamais seríamos os mesmos.

 

Hoje, são dezoito anos desde aquele primeiro dia, dez polos, mil e quinhentos alunos e muitas histórias boas pra contar. Nossa aluna Rafaela Silva ganhando o primeiro ouro do Brasil na OIimpíada do Rio, a cinco minutos da Cidade de Deus, onde nasceu, talvez seja a mais emblemática. Obviamente, tivemos também histórias tristes, mas todas nos ajudam a entender melhor o que somos e podemos. Inevitável olhar pra todas, as boas e as ruins, e pensar pra fora.

 

O que deu mais errado pra termos esse ciclo permanente de distribuição de desigualdade no Brasil. Um abismo educacional tão grande entre “quem tem” e “quem não tem” que chega a ser cruel falar em meritocracia. Se pudesse escolher uma transformação pro Brasil diria de bate-pronto. Oportunidades na largada pra todos. A luta precisa ser justa. Um peso pesado não luta com o peso ligeiro. Quantos potenciais perdidos nessa injusta jornada chamada “Democracia”. Estou mais velho e mais emotivo. Quantas vezes tive vontade de chorar quando um aluno chega “lá”. Lágrimas contidas, por ele, mas também por todos que não tiveram chance de lutar em condições mínimas de igualdade. São tantos. Quanto potencial perdido. Mesmo dentro do nosso Instituto. Tanta falta.

 

Como construir indignação genuína em escala? Talvez fosse um começo. Acomodamo-nos. Somos um país sem encontros e com cada vez menos empatia. Como quebrar preconceitos, estereótipos se o outro é sempre tão distante? Olhando pra trás vejo que tive sorte. O acaso me trouxe um olhar privilegiado. Graças ao esporte pude crescer num ambiente heterogêneo, com ricos, pobres, brancos e negros em pé de igualdade. Parece simples, mas pra mim fez toda a diferença. Éramos todos atletas, amigos. Quem treinasse mais, ficava melhor. Simples. Esse universo me levou ao Reação e ali, enfim, pude exercitar e direcionar minha indignação construída em anos de Rio de Janeiro. Não do que vivi no colégio, mas do que o esporte me deu de presente. Enquanto não construirmos os tais “acasos” para esses encontros – que deveriam acontecer na escola, igual em qualidade e acessível para todos – nos manteremos em mundos e projetos de nação egoístas e apartados. Lutar contra a desigualdade de oportunidade na largada, invertendo estatísticas que dizem que o futuro é definido pela origem de cada um é o mantra – quixotesco – do nosso Instituto e caberia muito bem na prioridade número um do Brasil.

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